Muita gente não deve saber disso ainda, mas eu sou um grande admirador de MMA. Aliás, gosto tanto, mas tanto que sem querer, mas no fundo querendo, estou fazendo minha pobre namorada conhecer os lutadores pelo nome, contando sobre as vidas de alguns deles ou mesmo sobre seus nocautes e derrotas mais contundentes como forma de torná-la interessada. Isso e, bom, menos entediada quando o namorado dela decide que vai passar o sábado a noite vendo dois sujeitos se esmurrando e amassando num octógono. Mas o que posso fazer? Não consigo pensar em um programinha a dois mais caloroso que assistir ao José Aldo “presentear” Mark Hominick com um galo na testa do tamanho do Kilimanjaro. Falando nisso, que luta aquela de José Aldo. O brasileiro, com toda a sua ferocidade, mostrou ao público canadense presente na Rogers Centre e aos assinantes de Pay Per View no mundo inteiro que é um dos lutadores mais impressionantes na atualidade, para além de ser o melhor em sua categoria. Hominick, seu adversário, embora notoriamente sobrepujado pela técnica do brasileiro, também mostrou muita raça, ou coração como dizem os americanos, e suportou o castigo a que lhe foi acometido como um valente. Aliás, ver o canadense com aquele calombo me remeteu aos antigos mitos gregos. Naquele instante, pela televisão, pensei estar diante da figura de Zeus, instantes antes de dar a luz a Deusa Atena.
Mas isso foi há duas edições atrás. No último fim de semana, também realizado no Canadá, aconteceu a edição 131 do evento, cuja luta principal foi travada entre o brasileiro Junior “Cigano” dos Santos e o estadunidense Shane Carwin, substituto de Brock Lesnar. O vencedor desta luta enfrentaria o atual cinturão dos pesos pesados do UFC, Cain Velasquez, considerado o número um na categoria. Número um e, provavelmente, um dos homens mais perigosos do mundo. Acompanhe abaixo minha análise das lutas do card principal:
1) Donald Cerrone VS Vagner Rocha (peso leve)
O brasileiro Vagner Rocha estreou no evento substituindo o lutador Mac Danzig (sem qualquer parentesco com o roqueiro ex-membro dos Misfits) no combate contra Donald “Cowboy” Cerrone e, infelizmente, não teve uma performance memorável. Passou os três rounds da luta tentando levar o adversário para o chão, onde poderia utilizar de sua experiência superior no jiu jitsu (ele é faixa preta na modalidade e ensina numa academia na Florida), para finalizar a luta, mas Cerrone é do tipo “carne de pescoço”tipo “carne de pescoço”: conseguiu evitar todas as derrubadas de Vagner, castigou o lutador com seus socos e seus contínuos low kicks afetaram seriamente o jogo do brasileiro. A luta terminou sem nocautes ou finalizações e os juízes deram a vitória para Cerrone por decisão unânime.
2) Jon Olav Einemo VS Dave Herman (peso pesado)
O Viking contra Pee Wee Herman. Ainda bem que apelidos não lutam. O norueguês Einemo fez seu retorno ao MMA após cinco anos enfrentando o americano Herman, que, assim como o primeiro, fazia sua estreia no UFC. Ele enfrentaria inicialmente Shane Carwin, mas com a saída de Brock Lesnar do evento para cuidar de sua diverticulite, Carwin foi chamado para a luta principal e o jovem “Pee Wee” foi chamado para substituição. E, amigos, essa luta não foi eleita a melhor da noite à toa: a luta dos dois pesos pesados foi marcada por muitos golpes de ambos os lutadores e algumas tentativas de levar a luta ao chão pelo faixa-preta em jiu jitsu Einemo. Mas não adiantou. Mesmo ditando fortes golpes contra um misteriosamente sorridente Herman, o viking norueguês, pouco depois de quase decidir a luta com seus poderosos socos contra Pee Wee encostado nas grades do octógono, foi derrubado com os precisos e poderosos socos de Dave Herman no segundo round aos 3:19 do segundo round do confronto. A luta entre os dois, com trocação feroz e constante de ambas as partes, foi provavelmente a luta favorita da maioria dos fãs de MMA em várias partes do globo. Mas, adianto, não foi a minha.
3) Demian Maia VS Mark Muñoz (peso médio)
Mesmo que indo para as decisões, essa foi a melhor luta da noite em minha modesta opinião. O paulista Demian Maia, especialista em jiu jitsu, campeão do ADCC de 2007 e cinco vezes campeão mundial na arte suave, enfrentou o americano de ascendência filipina Mark Muñoz, campeão de wrestling, campeão do tradicional torneio NCAA. O mundo esperava um duelo entre grapplers. Os dois ofereceram uma luta de strikers.
O primeiro round foi dominado por um inspirado Maia, que ditou o ritmo acertando muitos socos, um deles que inclusive deixou Muñoz tonto por alguns instantes logo no começo da luta. A tonteira do wrestler foi um óbvio sinal de fragilidade do lutador e, mesmo tendo acertado bons cruzados em seu oponente, serviu de prelúdio do que viria a ser o primeiro round da partida.
No segundo, entretanto, a coisa não foi assim. Ambos voltaram a partir pra trocação, mas Muñoz conseguiu misturar melhor o seu jogo em pé com o chão, evitando derrubadas de Demian Maia, distribuindo socos fortíssimos nas pernas do brasileiro enquanto este estava na base do filipino, e muitos outros golpes. Demian também não fez feio, continuou em frente e confiante, mas o segundo round foi para o filipino.
O terceiro e derradeiro round, infelizmente para o brasileiro, seguiu o ritmo do segundo. Embora Maia tenha encaixado bons golpes e, em certo momento, quase finalizou o oponente num crucifixo que faria minha mãe, tão católica, fazer o sinal da cruz, não conseguiu o que queria. Em pé e no chão, a máquina filipina de destruição conseguiu aplicar um bom jogo contra o brasileiro. A vitória foi por decisão unânime pelos juízes, mas aparentemente o primeiro round, notoriamente ganho pelo brasileiro, também foi dado ao seu adversário. Sacanagem.
4) Kenny Florian VS Diego Nunes (peso pena)
A estréia do veterano Kenny Florian na categoria peso pena se deu contra o gaúcho Diego Nunes. Um primeiro round movimentado, com talvez ligeira vantagem para Nunes, que disparou contra seu adversário uma série de chutes e socos, tendo conseguido um knock down próximo do fim do primeiro round, foi como um batismo de fogo para Florian. Mas nos dois rounds seguintes, entretanto, o descendente de peruanos conseguiu aplicar seu jogo. No ground and Pound, ainda no segundo round, Florian aplicou as suas famosas cotoveladas na cabeça de Nunes, que sangrou bastante. Conseguindo anular a maior parte do jogo do brasileiro, Florian foi surpreendido por outro soco de direito ao fim do terceiro round que poderia gerar uma vitória para o Brasil caso o gaúcho pudesse ter continuado. Mas logo após o seu knock down o terceiro round terminou. Vitória, mais uma vez, em decisão unânime para Florian, em meio às vaias dos canadenses na Rogers Arena. Mas não pensem que as vaias foram originadas pela torcida a favor de Nunes: Florian foi para a pesagem dias antes com a camisa de seu time de hockey favorito, que ia enfrentar um time canadense. Esses torcedores...
5) Junior dos Santos VS Shane Carwin (peso pesado)
A luta que todos aguardavam. Dois homens com o mesmo cartel (até o dia da luta, 12 vitórias e uma derrota), conhecidos pelos seus fortes socos. O impacto das mãos desses lutadores seria capaz de derrubar um cavalo, o nocaute era dado como certo por qualquer especialista em MMA, seja ainda no primeiro ou no segundo round, nunca no terceiro. Mas o inevitável Aconteceu foi maior: a luta se arrastou por quinze minutos e ficou para a decisão dos juízes. “Arrastou” talvez não seja o verbo adequado, afinal o que se viu foi uma luta inesperadamente técnica e bem pensada, com o Cigano aplicando grandes golpes contra um resistente, mas ineficaz Carwin. No primeiro round Cigano em certo momento surpreendeu Carwin com um de seus vários jabs e foi quase até o chão acertando socos na cara do americano.
Aliás, tantos socos que foi possível ver o catarinense olhando para o árbitro Herb Dean como quem pergunta “amigo, você não vai mesmo me pedir pra parar?”. Mas Carwin resistiu e continuou lutando sem parar. A falta de gás que demonstrou contra Brock Lesnar no ano passado, numa derrota que gerou uma lesão em seu ombro, foi quase esquecida pelos presentes. Mesmo com o rosto massacrado e com dificuldades para respirar, Shane Carwin lutou TODOS os rounds. Ele teria sido mesmo um fenômeno se Junior dos Santos não mostrasse que era melhor. Cigano, um faixa marrom de jiu jitsu, aplicou derrubadas de wrestling contra Carwin, que teoricamente era o melhor dos dois nessa modalidade.
6 comentários:
A luta do Cigano foi muito boa mesmo...
Mas acho que ele ainda não tem chance contra o Velasquez...
Excelente análise Luiz! O evento foi bem bacana mesmo. O que eu não fiquei sabendo foi a tua opinião sobre o TUF Finale, depois comente. Sobre o Cigano (ele é curitibano? pensava que ele fosse aqui de SC), acho que ele tem total condições de enfrentar o Cain Velasquez de igual pra igual. Mas vamos aguardar, tem tudo pra ser a maior luta de pesos pesados da história do UFC. Isso enquanto o Overeem não chega do StrikeForce, hehe...
Opa, valeu pelo comentário, Henrique! E, honestamente, espero que você esteja errado e que o Cigano consiga derrubar essa pedreira. Vai ser uma luta muito tensa.
Herax, eu me enganei mesmo, o Cigano é teu conterrâneo, já corrigi no texto. Eu também to achando que vai ser uma luta muito disputada, como disse acima, afinal, Velasquez fez o Lesnar pedir penico e o Cigano fez o Carwin sangrar feito gado de corte. Esperemos pra ver o Overeem contra o Werdun no próximo sábado!
Sobre o TUF, admito que o evento no geral não me empolgou. Os dois competidores que mais gostava perderam, embora as lutas dos dois tenham sido boas. O Chris Cope mostrou uma evolução enorme, dominou todos os rounds como se já fosse do Card Principal contra o Chuck, notoriamente perdido. Acho que ele precisa assistir, sei lá, lutas antigas do Ryan Gracie pra aprender a jogar no chão seus adversários com mais contundência. A luta do Guida contra o Pettis foi curiosamente cerebral por parte do primeiro, fiquei feliz por ele ter optado por um jogo mais sóbrio, embora meio amarrado. Já a final não teve jeito, o Brock Lesnar deve de ter se dado um tapa nas costas por ter chamado o Tony Ferguson pra treinar na academia dele. O Nijem lutou direitinho, mas as mãos do orelhudo foram certeiras.
Abração, pessoal!
Bem, eu sou a namorada citada no início do texto e estou muito orgulhosa pelo recomeço do Luiz no mundo dos blogs.
E ele está mesmo me fazendo conhecer cada vez melhor as Mixed Martial Arts (viu só?!)! Afinal, ele bem sabe que o galo na testa do Mark Hominick me deixou - e ainda me deixa - impressionada por dias e dias! :)
Vida longa ao Blog Derradeiro!
Muitos beijos da namorada que muito te ama (com e sem comentários sobre MMA, UFC e afins),
Marcella
Que bonitinho a namorada comentando...
E boa sorte com o novo blog, meu velho!
Abraço!
De fato espero que eu esteja errado também...
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